sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O louco das ruas

Em uma sacola plástica está uma toalha, uma camiseta surrada, um lenço velho.

Dormia tranquilo quando foi surpreendido por um policial militar que o puxou pelos braços. Deu tempo de pegar a sacola.

Foi jogado em um ônibus e lá encontrou muitos iguais a ele. Cinco ou seis minutos depois desceram em um lugar em que todos os esperavam.

Reviraram suas coisas. O obrigaram a tomar um banho gelado.
Ele gritava para quem quisesse ouvir “O que é isso? Não posso sair na rua agora?”.

Comeu um lanche de pão francês com presunto e queijo e um copo d’água.

Olhou lá fora e descobriu que uma chuva forte caia sob a cidade.
-- Ta vendo só? Molhou tudo agora! Molhou tudo! Vocês vão me dar outro cobertor? Quem vai me dar?

Um trabalhador que passa e vê a cena diz “Coitado, este aí é louco”.
Ele não sabe que a loucura é sua arma. Sua arma contra o que há de pior neste mundo: a maldade do ser humano.

Sendo louco não é bandido, não é ladrão, não é marginal. Sendo louco é apenas alguém sem nenhuma forma de lucidez, que não se importa em viver na rua.

E sendo louco se torna invisível nas ruas. Invisível a todos nós que não enxergamos nada além do nosso próprio mundo.